Sem efeitos: o que eu tenho pra te oferecer muda sob o teu olhar

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Capital do papel


Elas estão ali, em pé, me olhando fixo, como se eu fosse um prato de comida. Medo? Elas não parecem querer me atacar, nem tão pouco me atingir, são imóveis. Na verdade, parecem mesmo é que foram pintadas: não sorriem, não choram, não reagem. Produção de pouca verba, pintadas com tinta vagabunda.

Seria idiotice minha dizer que um dia andei lado a lado com elas? Pois é. Quando você está sozinho, elas parecem uma salvaguarda. Diria até que escutam seus problemas. Não respondem, mas escutam. Aliás, talvez até elas respondam, vai ver sou eu que não consegui ouvir. Putz, olha eu ficando maluco de novo.

Você deve estar se perguntando: “Como pode alguém se apoiar em algo sem graça, que não se mexe, não interage?” – e eu respondo: imagem. Lembra? De longe, parece tão bonito, elas compõem a paisagem, ou melhor, são a paisagem: aonde você for, tem uma, sempre com aquele sorriso marcado, ou então com um olhar sedutor. Aí já viu, quem não tá muito certo da cabeça, vai em frente.
Ao olhar distante, a sutileza é cruel, você não percebe a frieza daquilo. O problema é que nunca chegamos perto o suficiente para entender. Isso! Puta que pariu! Você anda durante anos pela mesma trajetória, não foge nem da própria sombra e sequer sabe que diabos está fazendo? Francamente. Aí sabe o que acontece? Um dia você se enfraquece e resolve se aproximar de vez. Pronto! Nesse momento tudo passa a fazer sentido, mas infelizmente não retoma o tempo que seus relógios engoliram. 

Passei a vida ao lado de gente, sim, mas de papel. Papel! Que porra é essa? Nos dias ensolarados, lá estão todas elas, do seu lado: saem em fotos, mandam lembranças e fazem promessas. Mas também não vá se empolgar, nunca peça um abraço para alguém de papel, conselho de amigo. Agora, se chover, meu caro, já era. Se até uma garoa desmonta esse tipo, imagina só tempestade forte, é patético. Aí você acha que ela se desmonta mesmo assim? Tolinho. Esse é o único momento em que elas se movem, ou melhor, correm. Se bater um vento, até voam.

Agora você se perde. Todo mundo foi embora, cadê suas referências? Nessa hora você vê o tanto de apoio que você largou nos pés dessa galera, afinal, papel não fica em pé, né? Elas só se ergueram por sua causa.

Acredite, no seu mundo tem muita gente de papel. Quem sabe até você não é um deles? Não duvido, mas caso não seja, também não há remédio. A não ser que no seu mundo não chova.

Fuja de onde não tem chuva. Antes que seja tarde.