Sem efeitos: o que eu tenho pra te oferecer muda sob o teu olhar

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Andarilho

Porque quanto mais caminho eu vejo, mais me dá vontade de correr. E a abrangência das ideias não me deixa tangenciar, sigo sempre meu rumo.

Mutante

Que dor essa que me acomete quando vejo que aquilo que me é imprescindível é algo que era absurdamente supérfluo. E o que me era insubstituível foi apresentando-se intermitente, passou de supérfluo e hoje ocupa a vaga de insuportável.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nós

Eu não sei se te amo. Pode ser que eu seja inexperiente, ou pode ser só descrença. Não sei se te amo ou só te quero pra sempre. A boca seca e o taquicardia que sua imagem me provoca, a tranquilidade que o seu sorriso me passa, do mesmo jeito que seu choro me desespera. A profusão de cores que me dá, acima das minhas confusões, por dentro dos seus verdes olhos. A falta de palavras que eu tenho depois de confessar seu amor por mim. A necessidade da sua presença calada. E a vontade de tê-la tagarelando ao meu lado. Pior ainda é o atraso de sentidos, a anestesia, que a sua falta me provoca: raciocínio lento, e a ânsia de que o tempo passe tão rápido quanto o meu piscar. Sinceramente, não sei se te amo, ou se o amor me deu você como parte dele, e roubou parte do que eu sou pra te dar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Agradecido

Era uma bela adolescente, por fora fazia as vezes de descolada, mas por dentro era um tanto deslocada. Se escondia em culturas do leste europeu para não precisar falar do seu círculo social. E quando precisava falar, era um Deus nos acuda, em dois milhões de palavras ela se via cada vez mais distante de uma verdade. Colocou todas as suas mazelas e esperanças em uma mala e decidiu que dali pra frente ela ia se chamar amor, e que independente do que os outros sentissem, aquele era o amor - não só o dela, mas o de um mundo inteiro. Se maquiou como pôde, estudou um pouco mais das culturas do leste europeu, escreveu textos imensos, e se viu cada vez mais distante de seus grandes amigos e suas companhias.
Um dia um rapaz veio a conhecê-la. Ele via a mala e achava um tanto quanto estranha, porque pra ele, amor não era nada. Nada mesmo! Ele via o amor como um sentimento único, mas indescritível. Já ela via o rapaz como um ser único, mas altamente rotulável, se é que é possível. Acontece que um dia esse menino estranho e ousado resolveu tocar a mala. A menina se estremeceu toda, mas deixou. Esperando um apoio, ela se assustou quando ele sacudiu o amuleto e fez a maior confusão. Dele saiu tudo o que a menina guardava. Inclusive suas máscaras, maquiagens, quase todo o leste europeu, suas definições de amor, e todas as coisas que não eram dela, mas que ela tinha se apossado. Ela, tresloucada, xingou o rapaz como pôde, tentando, em vão, catar o que podia. O menino, sem graça, se afastou, correu, e quando não tinha mais pra onde correr, enviou-lhe um telegrama, dizendo ter saudade. A menina respondeu que não sentia saudade, que o rapaz havia lhe feito um grande favor, e que suas amizades lá estavam novamente, que ela agora conseguia circular com sua mente pelos mesmos lugares onde o fazia com seu corpo e que ele era um ser acessório na vida dela e que a culpa de seus antigos devaneios era dele.
O rapaz, pouco chateado, não quis responder o telegrama, mas ele sabia que a mente deslocada da menina tinha ficado um pouco mais descolada. E que o lado descolado ia cada vez ficar mais deslocado. E isso tudo deveria durar até ela não conseguir se definir mais e voltar guardar tudo o que consegue pegar, quem sabe agora em uma van.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Verde

Eu demorei a entender que pra ser eterno não há de ser só terno. Tem que inquietar, doer, sofrer. Tardei mas descobri, que se for amor é eterno. E pra ser amor tem que ser leve e pesado, tem que ser claro e escuro. Que para ser paradoxo tem que ser calmo e violento. E que sempre que eu tentasse descobrir o que eu sentia por você, eu ia chorar, sorrir, me arrepiar, tocar, me enrolar. Mas eu nunca ia saber. Gaguejando eu posso até tentar explicar. Mas com um beijo ou outro, se eu te encostar, eu consigo me fazer entender. No olhar eu mostro que eu preciso de você.

Anestesia

Tomado por um sonho
Esqueci de pensar
Não consigo tocar
Aconteceu e esperou
Por onde eu vou não há chão
Minha cabeça me desacompanha
A cada pequeno devaneio
E invade sua áurea
Clara e leve
Para que eu possa ficar
Sem precisar sentir
O tato de mim mesmo

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Expulso

E lá vem ele, tirou toda a marcação. Segue livre no comando pro ataque, toca a bola com maestria. Levantou a cabeça e olhou pra área. Nenhum marcador por perto. Vai cruzar pra dentro da área do adversário. Um companheiro se aproxima.
Meu Deus! Mas o que é isso? Seu companheiro lhe deu uma rasteira violenta o impedindo de continuar o lance. Isso eu nunca tinha visto!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Culpa

Eu estou sozinho pelas desventuras que eu crio, ou por aquelas que eu não ouso em me meter?