Sem efeitos: o que eu tenho pra te oferecer muda sob o teu olhar

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Noviço

Que seus sonhos se realizem na mesma proporção
Em que as suas realidades se tornem sonhos

Rei bobo

Nos desafetos jogados como poeira para debaixo do tapete,
Em meio à tanta ignorância e fingimento, ao acaso.

Cansado como um velho que não pode sustentar seus filhos,
Me venda! E banque todos os seus vícios com o lucro.

Como valho tão pouco, talvez só dê para uma cervejinha gelada,
Mas corra e conte ao seus amigos, para eles se invejarem.

Quem sabe, valente e despido, consiga me dizer a verdade,
Afinal, masculinidade e honra são sinônimos, não é?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Biográfico 2000

Eu escrevo para achar que eu não sou eu mesmo.

Pequena

Dormi do seu lado no que eu guardo como a melhor de todas as noites.
Acordei sozinho, sem aquele calor, sem os olhinhos amassados.
Sem observar aquele sono leve de quem parece sorrir sonhando.
Em busca de explosões de alegria, me perdi por completo.
Corri para o chuveiro em busca de um despertar com um banho frio.
Mas ainda assim ficava difícil, parecia que a melodia não existia, que era fruto da imaginação.
Eu dizia a você mesmo que sentia a sua falta.
E preferia acreditar que aquilo tudo não tinha sido sonho.
Deitei de novo e esperei acordar em uma tarde de domingo.
Com algumas histórias para contar.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Coluna avertebral

Antes ser um artista timorata
Que um crítico corajoso.


Besteira, serei qualquer coisa. Desde que você não me entenda.

Amor

O que fizeram com você, amigo? Era garboso e cheio.
Famoso por ser cego, vir na hora certa, tirar o fôlego.
Hei de assumir, um verdadeiro gênio. Virtuoso.

Hoje, vejo fraco, na boca dos medíocres, na sarjeta intelectual.
Qualquer um pode ser "seu", qualquer um sabe quem é, já experimentou.
E que diabos é esse coração? Se eu te conheço bem, deve estar enfurecido com essa logomarca.
Sem falar em letras de bandas de garagem, postais eletrônicos, alianças, flores, carros, hotéis luxuosos.
Céus, você não era invisível?

Ora bolas, ou mude seus conceitos ou o nome de uma vez. Porque há muito que está assumidamente falido.

Clube da Luta

Eu não sei quem sou eu mesmo.
Durmo no corpo de outra pessoa e acordo no seu.
Tentáculos ensopados em seus seios hostis.
Descambo para o inseguro, passo horas acordado.
E quando me pergunta se é isso mesmo que quero eu finjo que não entendi.
Dou-lhe um pontapé que só acerta a mim mesmo.
E tento correr para a direção contrária.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sou brasileiro

Fazer o quê.
Que me desculpem, mas a poesia definitivamente perdeu a graça, assim como aconteceu com a palhaçada, a alegria e a honestidade. O fato de ser brasileiro, além de carnavais e um belíssimo e supracitado futebol pentacampeão do mundo, sem contar as formosas mulatas "modelos e atrizes", me trouxe também empacotados muitos fardos.
Desde o português, que poucos dominam e expõe a falta de comunicação dentro do país, à pobreza e falta de informação latentes, ao "jeitinho brasileiro", até chegar na pior de todas as mazelas: a política brasileira.
Ser brasileiro hoje passou a ser complacente às vergonhas e a tudo aquilo que nas conversas populares é veementemente reprimido, desconheço se por falta de conhecimento ou simplesmente de memória. Em outras palavras, ser brasileiro é ter o governador da capital preso por corrupção e achar normal a discussão da legalidade de sua prisão e ainda pior: apoiá-lo por ter ajudado os pobres e a manutenção dos serviços públicos - normalmente garantidos pelos exorbitantes impostos pagos - mesmo que desviando dinheiro público. Infelizmente, não precisamos de um Robin Hood nas rédias da sociedade.
É também desconhecer as vergonhosas práticas de coronelismo e voto de cabresto, e até achar natural uma família ser "dona" de um estado, um presidente vigente fazer campanha política para sua candidata, ou ainda um candidato impugnado colocar sua esposa em seu lugar, absolutamente despreparada, a troco de um governo patético em busca de enriquecimento, relembrando as máfias familiares.
É ter a participação popular na criação de uma lei contra a corrupção e nas vésperas das eleições ver a suprema corte de ministros e engravatados votarem sua constitucionalidade.
Consituição? O que é isso companheiro? Brasileiro não lê nem jornal. Mas vê humoristas serem proibidos de fazer piada com seus excelentíssimos políticos em uma forma apropriadíssima de censura, mais de 25 anos após o fim da ditadura militar. Aí sim é uma exemplar aplicação da constituição, creio eu.
Ser brasileiro é se voltar contra si mesmo. É ver um presidente que sofreu impeachment voltar de fininho para a política, e ter eleitores! É punir jogadores de futebol por suas condutas mas não saber o que é uma CPI.
Ser brasileiro... Ah, como é ser feliz! Afinal, saúde, educação, segurança pública... Balela! Eu verei a Copa do Mundo e as Olimpíadas. E se o Flamengo e a Beija-Flor não me fizerem esquecer, eu peço uma pizza e a gente resolve isso da melhor forma.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Penetrante

Quando o que eu conceituar como fim for para você o início, nós não estaremos separados, mas sim unidos como nunca antes. Cada um pela sua extremidade.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Away

Interessante como a ilusão é único caminho aparente quando eu tento tomar uma decisão lúcida.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Filósofo

Sente-se longe de mim.
Não aguento mais confusão.
Você nem sabe do que fala.
Filósofo...

Metáfora

Que diabos sai para o papel sem eu querer.
Vem a minha cabeça enganando o que é certo.
Vem aos meus lábios delatando o que é errado.

És curto e grosso, tirando o fôlego.
Paradoxal, talvez. Dialético, jamais.
De fácil escrita e difícil entendimento.

Assim eu trilhei meu caminho.
Ah, porém, por que eu saí andando assim?
Concupiscente. Certo dos incertos.

Mal sabia que chegaria um momento árduo.
Em que voltar não seria mais possível.
E que a felicidade e a loucura mesclar-se-iam.

Híbrido de cabeça e rude de músculos.
Achei que um lápis poderia ser uma mochila.
Poesias desconexas não são um bom avião.

Mas no fundo no fundo eu sei.
Que a algum lugar eu nunca hei de chegar.
Porque não consigo falar de mim.

Poesia de cego

É fácil acreditar em você
Dizendo pouco e deixando lacunas
Que eu mesmo tenho que completar

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Placebo

Volta aqui
Eu ando tão triste
Sem ter com que me preocupar.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Faina

A maior virtude de um grande problema é fazer esquecer que você já existia antes dele.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Carangueijo

Viverei então, em vão ou não
Pois em dado momento chegará
Para apagar meus pobres sonhos
E destruir meus ex-amores
Não esperar é o que me resta
Eu vou me deixar levar
Para caso você chegue
Eu nem precisar lutar

Independente

Do que aconteça, amanhã acordaremos poucos ricos e muitos pobres. Alguns esclarecidos obscuros e milhões de obscuros esclarecidos.
E aí virá um estrangeiro a expor nossas mazelas e ridicularizar o que está sob o nosso nariz. Ainda assim xingaremos, diremos que isso é uma vergonha: "Blah, aqui não tem pó, não tem corrupção. Olha o nosso futebol, o nosso carnaval...". Como se mitigássemos aquilo que a nós mesmos é difícil de engolir.
E quando pedirmos para mostrar a cara, esqueceremos de fazer o mesmo com nossas próprias, elegeremos aqueles que xingaremos antes de empossados. Repetiremos aos olhos dos filhos deste solo as atitudes que recriminamos aos olhos da mãe gentil.
A passos largos somos independentes: "Faz o que tu queres...", porém sob a visão dos milhões que mal conseguem enxergar muito longe, somos pura dependência. Da cabeça aos pés.
Sem mais delongas, que sejas feliz, e um pouco menos cega, ó Pátria Amada.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Notas de rodapé

O caminho mais curto para a delonga.
E o mais estreito para o sucesso.

Mary

Como foi capaz? Por que fez de mim um louco descabelado a sua procura embaixo das colchas e nas gavetas empoeiradas. Esteve comigo, Ginsberg, Rimbaud, Freud, todos juntos. E agora tudo o que me resta é a saudade do seu beijo, rapidinho, apertado.

Susto

E você se arvora em frases longas e pontuadas, acentudas.
Eu retruco com neologismos enrolados em seda.
A vingança sumiu, esvaziando assim seu prato.
O que eu como frio agora é a cordialidade.
Os seus dedos e não me toques.
Que me fazem crer que vamos chegar a algum lugar.
Quando tudo que eu queria era nem precisar ir.
Mas se precisa ser assim, tudo bem.
Jamais será assim.
Pontuado, à sua maneira.

Humano

As minhas fases são tão ridículas e desprezíveis quanto as minhas paixões e tão imprescindíveis quanto meus objetivos, tão fúteis quanto minhas fases.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Brechtiano

Eu vou até aí se você quiser. Poderá então tocar na carne, sentir o pêlo e o suor. Mas pagará por isso. Não vá pensando que o intrínseco pode ser só seu por um preço mais ínfimo que a paixão.

Ode

Àqueles que tem no amor seu maior regalo
E em si seu menor capricho
Pedem ao povo que se atentem as suas veleidades
Não se fazem ignorantes por amar o amor
Mas por esquecerem que este pode abrir
E não fechar seus olhos à claridade
Pode ser mais visceral que explicável
O regalo nem sempre reluz, mas pode até ser ouro.

Cerne

O desejo é uma víbora cruel, capaz de corroer as entranhas de um homem com seu veneno ardil e eficaz. Forte como a necessidade de tangir a algum lugar, extrai dos seres suas fraquezas e os faz derrotá-las com suas próprias mentes.

domingo, 29 de agosto de 2010

Filosófico X

Assuma, rapaz!
Você cansou de falar mal
Daquilo que te fortalece.

Isso

Incapaz de fazer o que sei
Me sinto perdendo o encanto
Aos poucos, rastejando
Prolixo e sofista
Rodeio os que me envolvem
E me envolvo com pouco
Mas meu amor dura mais
Cada vez mais
E me impede de fazer alguma coisa
Me sinto culpado de querer
Saber aonde eu vou me encontrar
Para nunca mais
Ter que passar por lá.

sábado, 28 de agosto de 2010

Inteligente X

Dá licença, dá licença
Deixa eu me aproximar de mim mesmo!

Vida eterna

Oh, céus
Cansaço esse que assola
Nas manhãs cinzentas ou ensolaradas
Não é vontade de sair ou de ficar
É vontade de não ter vontade
Por noites a fio eu fico a me imaginar
Longe daquilo que criei
Triste é não conseguir me embebedar
Nem passar aquili que não passei
Não posso hesitar em te buscar
Mas posso emprestar-te a minha alma
Em forma de folha ou de outro ser
Ah, você nunca vai entender
Caro amigo, sucesso!

Apaixonado

Rapaz, tire esse espelho daí
O que você tem para ouvir
É muito melhor do que tem pra falar

Sistêmico

Eu preciso me livrar de ti
Preciso em suma de ti
Precisas que eu te consuma
Suma de mim!
Criarei aquilo que é meu
Matarei quem eu quiser
E nascerei quem eu puder
Nervoso.

sábado, 7 de agosto de 2010

Ausência

É difícil falar sem conhecimento de causa
Atualmente eu só posso falar da minha própria vida
E isso pode não te divertir

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Maré

Dia em dia ela vence
E só quer saber
Se um dia vencerá
Se vai conseguir parar
E voltar a ser o que era

Ela sorri e apaga
Acende e chora
Chora e volta a sorrir
Vicia sem ciclo
Vicia sem prazer

Enfermidade essa que não adoece
Que não maltrata
Só faz maltratar
Ela olha no espelho e vê o que é
Mira lá atrás e vê o que era

Ela sabe que é feliz
Encontra apoio nas pernas magras
Lá no fundo ela sorri e espera
Lá no fundo ela vê o horizonte
Ela só quer trégua

domingo, 9 de maio de 2010

Wave

Ser feliz não é difícil
Impossível é ser feliz sozinho
E pouca gente sabe disso

Confissão

Eu amo!
Porque eu não posso fragilizar, eu preciso fortalecer. Ainda que isso me reste algum sacrifício.
Porque eu não sou fragilizado, o fato de eu amar, só me fortalece.
Porque erro, tendo a certeza de que vou acertar. E acerto, já tendo desistido de tentar. E quando erro, me convenço de que posso melhorar, mas se eu acerto, fico pensando se ainda tinha a alcançar.
Eu amo porque eu duvidei do amor e falei mal dele. E por meio dele mesmo, eu vi que não se trata de um mito, mas sim de uma realidade, e que não adianta ler definições alheias. O seu amor é seu, e é o maior do mundo. O maior que pode caber em seu coração.
Amo tanto que canalizei o meu amor. A parte que odeia, odeia porque ama. Aquela que se apaixona, ama por ser apaixonada. Quando eu não tenho palavras, é tudo culpa do amor. E quando eu falo demais, também.
Amo por tudo. Mas amo porque te conheci.
Amo hoje e sempre. Afinal, se é amor, há de ser eterno.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Obrigado

Um dia eu te amei
Um dia eu só quis estar ao seu lado
E planejar o meu futuro

Hoje eu não te amo somente
Como tenho vontade de te amar
Porque o amor não move montanhas
Mas sim a vontade que o amor nos dá

E hoje também eu não quero estar ao seu lado
Eu simplesmente não deixo de estar
Hoje eu não planejo meu futuro
Eu faço dele o hoje. Com você.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Verdade metafórica I

Eu carrego comigo um pedaço do céu. Às vezes ele está nublado, às vezes ensolarado, mas o que me importa é que ele continua sendo um pedaço do céu. E embora seja bem verdade que não dê pra estar sempre em "dias de sol", ele nunca esteve em completo cinza.
É estranho eu tê-lo descoberto logo nos tempos em que eu menos olhava pra cima. Em verdade, nessa época eu mal me lembrava que tinha algo acima de mim.
Com certeza hoje eu ainda viveria sem ele, mas não sei até quando. Afinal, sabe-se lá se eu ia ter a oportunidade de tocar o céu com os pés na terra, ou se eu conseguiria me guiar sem tempo e luz. Confesso que já tentei me ver sem meu pedaço de céu, mas seria como se eu não tivesse noção das coisas, ou talvez como se eu tivesse noção delas.
Aprendi a observar calmamente a noite, embora há vezes em que ele fique ensolarado até tarde, e a torcer pra que o tempo abra, quando há algo que o impeça. E não que eu não fosse feliz, mas o meu pedaço de céu me lembra a todo instante, mesmo sem falar uma palavra, que não há porque ser triste.
Hoje eu sou completo, eu tenho o meu pedaço de céu.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Essencial

A necessidade de transcrever o amor me fez um falso poeta.
A necessidade de estar com você fez do momento, único.
A minha paixão tornou-se necessidade do amor.
O amor tornou-se necessidade sua.
E você tornou-se necessidade minha.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Em branco

Feliz o que consegue passar e alterar algo no outro. Inútil o que não o faz por preguiça ou incompetência.

domingo, 28 de março de 2010

Ah

E por mais que você não tenha vontade de sonhar, os sonhos virão
A sua inspiração vai surgir dos momentos difíceis
Na sua felicidade você vai sentir saudade da sua genialidade
E vai perceber que é tudo cíclico.
Se a alegria é efêmera, a tristeza também
E não existe, jamais existirá, uma mudança brusca
Sem período de transição.
Dá pra ser feliz e triste sem amar
Apesar de não dar pra amar sem ser triste ou feliz.
Por isso deite
Mesmo que não tenha vontade.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Liso

Bobagem essa de pensar antes de falar.
Eu nunca pensei antes de falar.
Nem sei do que eu falo.
É tão involuntário quanto respirar.

domingo, 21 de março de 2010

Sonho

Acordou assustado, como se estivesse caindo.
Ao seu lado a mulher que sempre quisera que ali estivesse.
O mundo em volta em completa desconstrução.
Ao desenrolar dos enrolados pobres em seus devaneios.
Há quem diga que nada mais dá certo.
Sorrisos são raros. Felicidade ainda é lenda. E o amor...
Aí ele se acomoda, com calma, e olha para a moça.
Seu coração se acalma e nada mais o preocupa.
Ele a abraça e volta a dormir.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pazes

A nossa mediocridade é inata. Por mais que queiram se mascarar dentro de grandes homens, em seres bondosos, ou em malditos. Todos perecemos e sumimos. Temos na violência a nossa defesa, na beleza o nosso atrativo, no dinheiro o objetivo, e na calma a vingança. Esqueçamos e brindemos juntos nossas deficiências.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Útil

"Não há ninguém,
mesmo sem cultura,
que não se torne poeta
quando o Amor toma conta dele."

Platão

Sente-se ali, rapaz, achei um dever para você!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Andarilho

Porque quanto mais caminho eu vejo, mais me dá vontade de correr. E a abrangência das ideias não me deixa tangenciar, sigo sempre meu rumo.

Mutante

Que dor essa que me acomete quando vejo que aquilo que me é imprescindível é algo que era absurdamente supérfluo. E o que me era insubstituível foi apresentando-se intermitente, passou de supérfluo e hoje ocupa a vaga de insuportável.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nós

Eu não sei se te amo. Pode ser que eu seja inexperiente, ou pode ser só descrença. Não sei se te amo ou só te quero pra sempre. A boca seca e o taquicardia que sua imagem me provoca, a tranquilidade que o seu sorriso me passa, do mesmo jeito que seu choro me desespera. A profusão de cores que me dá, acima das minhas confusões, por dentro dos seus verdes olhos. A falta de palavras que eu tenho depois de confessar seu amor por mim. A necessidade da sua presença calada. E a vontade de tê-la tagarelando ao meu lado. Pior ainda é o atraso de sentidos, a anestesia, que a sua falta me provoca: raciocínio lento, e a ânsia de que o tempo passe tão rápido quanto o meu piscar. Sinceramente, não sei se te amo, ou se o amor me deu você como parte dele, e roubou parte do que eu sou pra te dar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Agradecido

Era uma bela adolescente, por fora fazia as vezes de descolada, mas por dentro era um tanto deslocada. Se escondia em culturas do leste europeu para não precisar falar do seu círculo social. E quando precisava falar, era um Deus nos acuda, em dois milhões de palavras ela se via cada vez mais distante de uma verdade. Colocou todas as suas mazelas e esperanças em uma mala e decidiu que dali pra frente ela ia se chamar amor, e que independente do que os outros sentissem, aquele era o amor - não só o dela, mas o de um mundo inteiro. Se maquiou como pôde, estudou um pouco mais das culturas do leste europeu, escreveu textos imensos, e se viu cada vez mais distante de seus grandes amigos e suas companhias.
Um dia um rapaz veio a conhecê-la. Ele via a mala e achava um tanto quanto estranha, porque pra ele, amor não era nada. Nada mesmo! Ele via o amor como um sentimento único, mas indescritível. Já ela via o rapaz como um ser único, mas altamente rotulável, se é que é possível. Acontece que um dia esse menino estranho e ousado resolveu tocar a mala. A menina se estremeceu toda, mas deixou. Esperando um apoio, ela se assustou quando ele sacudiu o amuleto e fez a maior confusão. Dele saiu tudo o que a menina guardava. Inclusive suas máscaras, maquiagens, quase todo o leste europeu, suas definições de amor, e todas as coisas que não eram dela, mas que ela tinha se apossado. Ela, tresloucada, xingou o rapaz como pôde, tentando, em vão, catar o que podia. O menino, sem graça, se afastou, correu, e quando não tinha mais pra onde correr, enviou-lhe um telegrama, dizendo ter saudade. A menina respondeu que não sentia saudade, que o rapaz havia lhe feito um grande favor, e que suas amizades lá estavam novamente, que ela agora conseguia circular com sua mente pelos mesmos lugares onde o fazia com seu corpo e que ele era um ser acessório na vida dela e que a culpa de seus antigos devaneios era dele.
O rapaz, pouco chateado, não quis responder o telegrama, mas ele sabia que a mente deslocada da menina tinha ficado um pouco mais descolada. E que o lado descolado ia cada vez ficar mais deslocado. E isso tudo deveria durar até ela não conseguir se definir mais e voltar guardar tudo o que consegue pegar, quem sabe agora em uma van.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Verde

Eu demorei a entender que pra ser eterno não há de ser só terno. Tem que inquietar, doer, sofrer. Tardei mas descobri, que se for amor é eterno. E pra ser amor tem que ser leve e pesado, tem que ser claro e escuro. Que para ser paradoxo tem que ser calmo e violento. E que sempre que eu tentasse descobrir o que eu sentia por você, eu ia chorar, sorrir, me arrepiar, tocar, me enrolar. Mas eu nunca ia saber. Gaguejando eu posso até tentar explicar. Mas com um beijo ou outro, se eu te encostar, eu consigo me fazer entender. No olhar eu mostro que eu preciso de você.

Anestesia

Tomado por um sonho
Esqueci de pensar
Não consigo tocar
Aconteceu e esperou
Por onde eu vou não há chão
Minha cabeça me desacompanha
A cada pequeno devaneio
E invade sua áurea
Clara e leve
Para que eu possa ficar
Sem precisar sentir
O tato de mim mesmo

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Expulso

E lá vem ele, tirou toda a marcação. Segue livre no comando pro ataque, toca a bola com maestria. Levantou a cabeça e olhou pra área. Nenhum marcador por perto. Vai cruzar pra dentro da área do adversário. Um companheiro se aproxima.
Meu Deus! Mas o que é isso? Seu companheiro lhe deu uma rasteira violenta o impedindo de continuar o lance. Isso eu nunca tinha visto!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Culpa

Eu estou sozinho pelas desventuras que eu crio, ou por aquelas que eu não ouso em me meter?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Atenção

Somas a tua sutileza uma empolgação, como se hoje fosse o primeiro dia de tua vida, e ganharás a si mesma, antes de ganhar o mundo.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Até

No meio dessa sua melancolia pós-moderna
Eu desconstruo, mexo, remexo
Porque é certo que a ordem se faz da desordem
E o amor se faz do ódio
Mas aprenda de uma vez por todas
Que a saudade não se faz da partida

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Encomenda

Antes de me livrar de você
Eu vou me livrar dos meus defeitos
Aí sim eu poderei te despachar
Com o que eu tenho de melhor

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Subjuntivo

Que seja só diversão
Que seja sem lei
Que eu consiga
Que eu nem tente
Que nada aconteça
E eu possa nem ver
Que de nada adiantou

Que os meus planos falhem
Minha promessas de mundos
E fundos de poço
Minhas eternidades efêmeras

Que seja leve
Que eu nunca me canse
E que nunca aconteça
Pra eu chorar, sorrir
Mas aprender
Quer viver, ah
Viver é melhor que sonhar

Madalena

Enquanto houver de viver
Que se viva
E me maltrate
Enquanto conseguir não doer
E eu não me arrisco
Há de convir
Em sequer um palpite
Mas vou repetir
Que o que é meu
Não se divide

Mensageiro

Eu não vou guardar nada
Vou só circular
Porque eu não posso me cansar
E não ter pra onde te levar

À caneta

Aconteceu, passou
E essa sensação
De que não há o que corrigir
É rudemente castigadora
E sutilmente prazerosa

Carpideira

Você também sente, eu sei
A única diferença é essa sua
Capacidade incrível de fingir

Saudade

Mal que acomete a todos que amam. Dor aguda. Ou se mata, ou então não vai embora. Pra saudade não existe esquecimento.