6:15.
Antônio e Toni acordam em casa.
Antônio é
desempregado, pai de 5 filhos. Toni é da PUC, filho único.
Antônio
pega 3 conduções. Toni conduz o carro da mãe.
Antônio é
alienado: assiste Globo. Toni é antenado: lê o Gregório na Folha.
Antônio
trabalha há 40 anos. Toni lê Marx há 4 meses.
Antônio não
acredita no mundo. Toni acredita que pode mudá-lo.
Telefone
pro Antônio. Mensagem pro Toni.
É
entrevista, Antônio, vai sair do olho da rua. É luta, Toni, vem pra rua.
Antônio
sobe no coletivo. Toni desce no elevador.
No relógio
de Antônio: 8 horas. No de Toni, 7:55 a.m..
Antônio vai
espremido no banco. Toni vai mais ainda na calçada.
Antônio
apaga no ônibus. Toni acende um pneu.
Antônio
respira o ar viciado. Toni, bomba de efeito moral.
Antônio
está parado. Toni está movendo o país.
10:30.
Antônio perde a entrevista. Toni ganha a capa do jornal.
Capitalista,
Antônio pega o celular. Socialista, Toni esconde o dele.
Antônio
enrola pra dar a notícia em casa. Toni enrola um baseado no carro.
O governo
vai me ajudar, pensa Antônio. O governo vai me pagar, grita Toni.
Antônio
espera a próxima. Toni também.
Antônio
volta pra casa. Toni, para o seu mundo.