Sabe a tal da vergonha? Pois é, acho que já passei desse
ponto. O que eu sinto do meu país vai muito além: eu sinto pena, puro dó. Muita
indignação.
Você pode me dizer: “Moleque, olha que país maravilhoso, que
povo feliz, que garra, que vontade...”- balela! Chega de pagar de povo unido,
chega de pagar de guerreiro. Nós somos um bando de merda. Isso aí, M-E-R-D-A.
Tudo no mesmo saco: podre por dentro e maquiado por fora, à base de muita
caipirinha e bunda.
Nós somos o que fazemos. O espelho do meu “coração brasileiro”
é isso: andar pelas ruas da capital federal com medo, por mais perto que seja
da minha casa, casa da calada “classe média”,
sem segurança, sem transporte, sem direito, sem porra nenhuma. Aliás,
muito pior que isso, porque para mim, porra nenhuma ainda deve ter saúde e
respeito, se não tiver uma educação melhor que a nossa. Nós somos a xepa, somos
aquele resto, as sobras.
E quem escolheu isso? Você não foi, né? Claro, gênio! Não
foi você que deu dicas no twitter de como fugir de blitz para quem estava
bêbado feito um gambá, né? Também não foi você que estudou 3, 4, 5, 10 anos
para um concurso público para dar migué, ficar com a bunda colada em uma cadeira
para o resto da vida e assegurar seu lugar na classe média. Afinal de contas,
em Miami ninguém sabe que seu país é uma merda, né? Você também não deve chamar
professor de “vagabundo” e muito menos se engajar em debates ferrenhos e
relevantes como o estupro do Big Brother, a marcha da maconha ou a careca de
uma piranha em seus 14 minutos e meio de fama. 14 minutos de rede nacional.
Você há de concordar comigo: você não foi dormir com o país
em ordem e acordou com essa cagada generalizada nas manchetes do jornal. A
menos que você tenha dormido com os índios, lá pelo ano 0. Quer dizer, ano 0
por aqui.
Ontem à noite a gente já tinha cidades ultra violentas, uma
crackolândia maquiada em todas as grandes capitais, o tráfico mandando nos
políticos e os políticos cagando para você.
Por falar em político, era aí que eu queria chegar. Essa
semana, em pleno ano de 2012, (sim, Século XXI, a era da informação, ou
qualquer coisa do tipo) os nossos Deputados Federais ilustríssimos,
garbosíssimos e espertíssimos votaram seu direito de 14o e 15o
salário. Seria a gota d’água. Seria. Não fosse o personagem principal do meu
país ser um bicheiro que, atualmente, parece coordenar o mundo: uma zona muito
maior do que essa aqui que eu vivo. Não fosse gente morrer na fila dos
hospitais. Não fosse uma greve generalizada da Polícia Militar que gerou mais
algumas mortes. Mas não morreu ninguém aí na sua casa, né? Muito menos um
Yorkshire foi espancado, para motivar a sua ira. Ah, que ira!
“Tem culpa eu? Não fode, rapaz!”. Claro que não, a culpa é
minha. Fui eu que votei feito um débil mental nas últimas eleições. Sou eu que
quando encontro um político na rua, peço autógrafo. Sou eu que sei a escalação
do meu time preferido, mas não sei quem é o Presidente da Câmara dos Deputados.
Sou eu que marcho contra a corrupção, mas paro o carro em vaga de deficiente.
Sou eu que me preocupo se vai poder ou não encher o rabo de cachaça durante a
Copa do Mundo. E no final das contas, fico sentado na minha poltrona,
acreditando na minha competentíssima mídia. Enquanto uma gota de sangue não me
atingir aqui na invencível classe média, eu vou ficar. Que se foda se tem gente
morrendo de dor, ou morrendo de fome, eu sempre guardo dinheiro para a esmola:
eu sou a caridade. Não sou eu vou morrer de bala perdida, eu passo férias em
Londres.
Sou eu, sou eu. Sabe quem sou eu? Eu sou o Brasil: o país
que morreu há alguns anos. E por falta de escolha, colocou um monte de merda em
seu lugar.
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