O medo.
Eu tenho medo, mas nós moramos em um país onde as pessoas
não têm. Pior, somos seres humanos e, por isso, parece que as coisas nunca nos acontecerão:
se alguém é roubado, foi porque errou ou deu azar, mas nunca porque o problema
está a frente dos olhos, nas esquinas que permeiam a classe média. Média alta,
média baixa, medíocre e calada. Impune. Acredite, o primeiro passo da
insegurança é a falta de medo.
A política.
O Brasil é um país pobre, “do futuro” há 30 anos, onde o
único sistema que funciona de verdade é o tráfico de drogas. Ninguém mais
espera que a política vá resolver alguma coisa, porque em país pobre, quem tem
dinheiro quer que os pobres se fodam. E nesse caso, você aí da classe média
também é pobre.
Eu não tenho medo nem vergonha de dizer que o que acontece
nos outros setores é culpa não da política, mas da politicagem. Inclusive o caso
da minha faculdade, particular e cara: o Centro Universitário IESB, onde alunos
são assaltados e agredidos há anos sob o olhar de uma apática reitoria.
Nesse nosso sistema que já nasceu falido, a faculdade e o
governo fazem um jogo político como quem joga cartas no bar, na maior
informalidade. Informalidade essa que custa os bens materiais, o dinheiro e a
integridade física de estudantes, as únicas pessoas que teriam chance de mudar
o curso desastroso desse país. Por que ninguém sabe disso? A mídia passa
novelas, reality shows ou extensos julgamentos políticos. Fica fácil alienar a
multidão enquanto nossos educadores se preocupam em fazer política e se
esquecem de educar.
Isso tudo é cruel, mas não faz sentido. A faculdade, o
governo e a mídia dependem muito mais de mim do que eu deles. Para o sistema deles
funcionar, eu preciso estar vivo. Essa é a hora que o dinheiro fala mais alto:
eu sou tanto um número que não farei diferença se morrer. Nem você.
A vantagem.
Para piorar mais um pouquinho, viver no Brasil é ruim.
Ganhar dinheiro é difícil e viver é caro: característica de país pobre e com
pensamento mesquinho.
A super classe-média não vê a hora de se enfornar em um
cargo público para ganhar dinheiro e se inutilizar para a sociedade. Aliás,
sociedade essa de onde ele nunca saiu. É a metalinguagem da imbecilidade.
Além disso, para a grande parte da população, trabalhar não
resolve os problemas. Hoje, com uma arma na mão, um menino de 16 anos ganha
muito mais dinheiro que segurando um martelo. É injusto culpá-lo. Ele não puxa
o gatilho sozinho.
O problema é que nós só sentimos a segurança quando ela
acaba, naquela fração de segundo onde você vê tudo ir embora, com um revólver
apontado para si.
Dinheiro não traz segurança, Sr. Reitor. Dinheiro não traz
segurança, Sr. Secretário. A arma que mata o pobre também vai lhe matar. E
ainda o deixará sem o pobre, aquele que lhe deu as tetas para que o senhor
mamasse.
E o que irá mudar? Absolutamente nada. Medo, política e
segurança são conceitos antigos, diria até primitivos. Quase igual nosso
pensamento, por mais doutores que sejamos.