Meu pai sempre foi um sujeito supersticioso. Caricato. Desse que faz o
sinal da cruz três vezes seguidas, só pra reforçar. Camisas de São Jorge devia
ter trinta, que ele combinava com as quatro medalhas que levava no peito.
Tatuagens sempre em número ímpar, pra não dar azar. Do quarto, gritava
religiosamente todas as manhãs:
-
Rita,
qual a cor de gravata hoje?
-
Lilás,
André! – variava de acordo com a energia, mas sem mudar o nó, igual por 20
anos.
Às vezes eu questionava sua fé, dizia que se perdia no meio de tanto
ritual. Só pra provocar. Eu sabia que na verdade ele se deixava marcar por
momentos. Assustadoramente atencioso, procurava no êxito uma razão. E quando
achava, era capaz de repetir eternamente. Assim ele construiu suas tradições,
que por serem muitas, nunca ficavam chatas. Quase nunca.
E aí eu aprendi que homem de verdade penteia o cabelo para um lado e
coloca o cinto para o outro (o mesmo da mão do relógio), que se sai de casa
sempre com o pé direito, que antes de mergulhar se salta com os dois
pés e que dia 29 é nhoque que vai pra mesa, e que os sete primeiros pedaços se
comem de pé.
Mesmo que não tivesse nenhuma explicação, meu pai tinha a fórmula do
sucesso.
Ele entendia, eu não. Até hoje.
2013, o primeiro ano sem ele aqui na terra, foi o melhor da minha vida.
Árduo, mas irretocável. Tudo deu certo.
Talvez sejam suas maluquices de novo. Deve estar tentando me mostrar que
o evento mais marcante da minha vida pode ser o ponto de partida para a minha
fórmula de sucesso. Minha e de uma porrada de gente. Ele não me deixou sozinho.
E é fácil de imaginar e de entender: lá de cima deve ser muito mais fácil dar
uma forcinha.
Que venha 2014. Estou com sorte.
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