Sem efeitos: o que eu tenho pra te oferecer muda sob o teu olhar

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Ao mestre, com carinho.


Eram quase oito da noite. Molhado de chuva, entrei em casa exausto após um longo dia. Texto, reunião, job, cliente e feijão com arroz, como sempre. Sem te perguntar opinião para nada, sem ligar pedindo ajuda, sem setenta mensagens de texto, como nunca.
Entrei em casa vazio, devastado. Há mais de 20 dias não via aquele sorriso, não tomava um esporro, não ouvia uma reclamação, não sacaneávamos ninguém.
Vinte dias! Parece que foi ontem que os papéis se inverteram, que te disse: “Respira devagar, porra! Vai ficar tudo bem.”. Em parte deve mesmo ter ficado.
Cheguei em casa e corri para dentro. Fui ao banheiro, lavei o rosto e fui ao seu quarto. Há tempos faço isso e ainda espero vê-lo deitado, esparramado, me saudando com um olhar cansado, mas jamais abatido.
Todo dia o faço, mas dessa vez foi diferente. Hoje, cada segundo foi repleto de você. Nas malandragens, no café, no almoço. Que maluquice a minha, fiz exatamente as mesmas coisas, mas de fato, não me dei por satisfeito.
Ao pegar o jornal pela manhã, minha mão esticou-se sozinha no ar, sem encontrar quem o segurasse. Quando fui à padaria, parei na porta esperando você entrar. Ao me irritar, esperei sua janela. “Opa”. “Opa”. “Olá!”. “Atende porra!”. No almoço, cheguei a pensar em reservar sua cadeira: vai que você aparece. Já exausto, ao fim do dia, desci do carro, esperando te encontrar. Subi as escadas, degrau por degrau, abri a porta e sofri ao ver que aqui você não estava. Futuquei a papelada, os chocolates diet, fui na caixinha do correio, acelerei o poderoso Sonata, mexi nos seus relógios e nada de você aparecer. Eu sentia você tão perto...
Quando por descuido examinava minha barba no espelho é que pude perceber. Claro! Dentro dos meus próprios olhos eu encontrei: você estava ali.
Quando comprei doze do francês, era você. Quando li primeiro o caderno de esportes, era você. Quando pedi um expresso, era você. A barbeiragem no trânsito também foi culpa sua. Ao acalmar minha mãe, claro, era você. Como é que eu não tinha percebido? O motivo de te sentir tão perto era um só: você está em mim. A cada movimento, a cada sacanagem, a cada gargalhada, a cada momento meu, você vive. Eu te faço viver. Não hoje, mas para sempre, o meu agora será repleto de você. E que assim seja até que eu possa te encontrar de novo.
Então acalme-se, onde quer que você esteja. Siga meu conselho: “Respira devagar, porra!”. Daqui para frente eu viverei por mim, mas me divertirei por você.
Meu eterno guerreiro.
Do seu filho. Do seu sangue. 
Te amo.

2 comentários:

Carolina Coelho disse...

Não consegui ler nem uma palavra se quer sem derramar uma lágrima.
Assim como ele, você é foda.

Unknown disse...

Que texto perfeito!