Uma verdade: artistas
dependem de público. Nem mesmo um monólogo acontece diante de ninguém. A
plateia é o espetáculo, a razão. E isso não sou eu que estou dizendo.
Uma vez conheci um
artista, de um personagem só, mas um belo artista. Talvez até por isso tenha
feito da vida o seu espetáculo, e isso não é um trocadilho. Para ele, faxineiro
ou presidente, todo mundo era plateia, e, é claro, merecia ver se show. Arrancava da plateia o riso contido, a gargalhada deliberada e a diversão
complacente.
Carismático, sempre
foi.
Todo mundo queria ver
o espetáculo. Mas, de graça e com tanta desenvoltura, quem se renderia? Não
havia mau humor que não virasse piada, mania que não virasse história e
história que não virasse mania. De tanto sucesso, mal dava tempo de esvaziar as
salas, o que resultou em um hábito peculiar: viciou-se no aplauso. Mal acaba um,
emendava outro, só para ouvir a incontida plateia se manifestar. Gargalhava.
Um dia, na mesma
rotina incontida, cansou-se e, no meio do espetáculo, decidiu ir embora. Mas
era profissional, não parou no meio do ato. De tão bom, podia observar o olhar
atento de cada espectador sem deixar escapar a tristeza da despedida ou fugir
do personagem. Só para caber mais piadas em seu tempo contado, acelerou tanto a
caminhada sobre as falas que acabou ofegante.
Fim.
Ouviu os aplausos, curvou-se
ao público e, antes que alguém pudesse virar-se, saiu pela porta da frente do
teatro, passando no meio da confusão. Foi embora.
Há quem diga que até
agora não entende sua partida, há quem diga que espera sua volta e ainda hoje
tem gente sentada na sala esperando a próxima peça.
No final das contas,
entendi: fez do aplauso rotina porque detestava despedidas.
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